domingo, 3 de outubro de 2010

Depois?

"AMOR.
Anceios. Receios. Desejos.
Promessas de paraiso.
Depois sonhos. Depois risos.
Depois beijos.
E depois?
Depois Amados!
Depois dores sem remédio.
Depois prantos. Depois tédio.
E depois?
Depois NADA
"
PAULO MENOTTI DEL PICCHIA [1]


A madrugada já ia avançada; encontravam-se naquele breve momento, onde a noite já não mais conseguia manter sua escuridão, nem tampouco o dia tinha forças para raiar o sol.

Com os olhos pesados, ele mirou o espelho no lado oposto do quarto, e a imagem que viu refletida era, pra ele, quase que uma miragem.

Uma lufada de ar levemente frio, característico daquelas noites de inicio de outono golpeou sua face e ela simplesmente continuou ali, imóvel, sem mover um único músculo, deixando apenas seus pensamentos a levarem onde seus pés não podiam ir.

Ele se virou na cama, e após os segundos necessários para que seus olhos encontrassem o foco compatível com a meia luz do ambiente em que se encontravam ele pode vislumbrar as costas desnudas daquela que ele mais amava.

Apoiada com os cotovelos no parapeito da janela do 23° andar, ela revivia os maravilhosos momentos pelo qual acabara de passar.

Horas atrás ao chegar a seu apartamento ela se deparara com uma bela surpresa: já no corredor que ia do elevador à sua porta um caminho de pétalas, ladeado de velas conduziam seu caminho, e naquele momento um sorriso de satisfação percorria seu íntimo.

Como que em plena sincronia, os pensamentos dele também transitavam na noite que tiveram juntos.

Em pensamentos ele lembrou-se do olhar radiante que ela o havia dado ao cruzar a porta que os separavam, e perceber que ele a aguardava do outro lado da sala com um bouquet de rosas nas mãos.

Ela estava linda, como só ela podia estar, vestido leve sobre a pele, cabelos soltos e levemente bagunçados, o perfume que nesta hora avançada já havia se misturado com seu cheiro, e que pra ele era quase que um anestésico.

Abraçaram-se demoradamente, e ela o beijou com o melhor beijo do mundo, nesse breve momento suas pernas tremeram da mesma forma que haviam tremido tempos atrás quando se conheceram.

Ela queria saber o que, e porque daquilo tudo, mas sua resposta foi singela, Porque eu te amo! e era a mais simples verdade, ele a amava.

Ainda em seus braços ele pode ver uma lágrima solitária disparar rumo a suas bochechas, que coravam ao tom de morangos maduros; pulando em seu pescoço ela novamente o beijou.

Displicentes no chão da sala, beberam um vinho barato, e falaram da lua.

Depois jantaram a boa comida que ele dizia ter preparado.

Como que se depois de tanto tempo eu não soubesse, ela pensara, que ele mal sabe fritar um ovo, ou como que se eu não fosse reconhecer o fettuccine carregado no alecrim, que eu como toda semana no restaurante da esquina.

Mesmo assim, após satisfeita ela o elogiou e recostou-se em seu ombro.

Ele a afagou os longos cabelos castanhos, apertando levemente a nuca, e a beijou, uma, duas, dez vezes, correndo os dedos por sobre suas costas, e sentindo nesse momento a pele arrepiar-se, sorriu por dentro, ao perceber o efeito que ainda causava nela.

Afastou-se alguns centímetros para admirá-la, como você é linda, um sussurro saiu de seus lábios.

Com o ego quase que incontido, ela admirou seu olhos noturnos, de cílios longos, iguais aos que eram retratados nas velhas esculturas egípcias do museu que ela trabalhava.

Com verdadeira afeição ela escorregou a mão por sua têmpora direita, e apertou-lhe a nuca, trazendo-o junto a si, no mesmo instante em que ela sentia a palma da mão áspera atravessar o caminho do joelho ao fim de suas coxas, e não mais suportando a ânsia que a dominava ela pulou em seu colo e novamente o beijou, e como era bom o beijar, como era bom sentir o desejo que ele sentia por ela e que ela percebia aumentar, nesse momento.

Ele a virou sobre o tapete macio em que se achavam, e num ímpeto arrancou-lhe toda a roupa segurando os pequenos seios com ambas as mãos.

Podia sentia o desejo quente e úmido que emanava dela, e com todo seu ser fizeram amor, ou seria sexo? era os dois.

E se amaram, no chão, no sofá, e por fim na cama, que ele agora ocupava sozinho.

Satisfeita, de pé ao lado da janela, ela pode sentir ao longe o cheiro bom de café e de pão assando.

Ela não havia dormido um minuto sequer, e uma onda de cansaço percorreu seu corpo e ela espreguiçou-se.

Admirando-a ele sorriu ao vê-la espreguiçar, e sentiu uma pontada de desejo ao ver sua calcinha branca de algodão apertar-lhe a bunda, no movimento em que ela fazia.

Com a voz rouca, ele a chamou!

Ela se virou, e caminhou em sua direção.

Neste segundo uma brisa matinal correu pelo quarto, e algo misterioso aconteceu.

A cada passo que ela dava em direção à cama, era como se ela tivesse correndo na direção oposta, e um sentimento amargo apertava seu peito.

Após dizer seu nome, ele viu lampejar o sorriso que ela lhe deu.

Então ela partiu eternamente da janela rumo a seu encontro, e um frio incompreensivo mergulhou em seu estômago ao perceber algo diferente em seu semblante.

Sentada na ponta da cama ela pode perceber!

Não sabia o motivo, e em uma vã tentativa de achar uma explicação ela vasculhou seu ser.

Não houve resposta. Mas ela sabia, simplesmente sabia.

Os olhos se fitaram, e ao vê-la abrir a boca alguns milímetros ele chorou, um choro prolongado, sem razão, um pranto incontido. Ele chorou.

Ela se levantou, e com um nó na garganta colocou o vestido, que ele, horas atrás havia tirado.

Ela não precisava dizer, ele sabia o que seria dito e era demasiado doloroso ouvir, mas mesmo assim ela disse.

- Eu não te amo mais! Me desculpa.

Ecoou da sua garganta.

Ele queria saber o porquê, e sua pergunta foi quase que um pedido!

- Por favor, não!!!

- Eu não sei! Foi a resposta.

E era verdade, ela não sabia.

Tudo parecia em câmera lenta, ela foi em sua direção, e o beijo na testa que ela lhe deu foi gelado como a noite. Como ele queria que ela não o tivesse dado.

Ele não podia simplesmente aceitar. Mas não havia palavras em sua boca. Não havia nada que ele pudesse fazer, a não ser implorar, e ele implorou o quanto pode.

Mas foi tudo inútil.

Sob a soleira, ela deu uma ultima espiada no quarto por sobre seu ombro, e um triste pensamento lhe acontecia.

Até o amor, o mais puro e sublime amor, assim como todas as coisas também acaba, e a nós, simples amantes, só nos cabe amar.

Ela se virou e partiu.

[1] O Poema que abre o presente post, é uma reprodução não oficial do poema atribuido à Paulo Menotti Del Picchia. Del Picchia foi poeta, jornalista, advogado e romancista; paulista de Itapira, que viveu em São paulo entre os anos de 1892 e 1988, dentre suas obras estão: Poemas do vício e da virtude; Máscaras; Chuva de pedra; O amor de Dulcinéia; dentre outros diversos escritos.

 


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