segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL





Quando uma amiga me recomendou que assistisse o filme As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower –EUA, 2012 - 103 min. Drama) e me disse tratar-se de uma história sobre um grupo de adolescentes e suas descobertas no momento em que frequentam o colégial, pensei, “lá me vem mais um daqueles filmes melosos, com roteiro superficial e que nos dá enjoo nos cinco primeiros minutos de projeção”!!!

Todavia, para minha boa surpresa a espectativa negativa não passou de um ledo engano. Se fosse necessário sintetizar sua essência, diria que o filme tenta dar a ideia de quão importante são os pequenos momentos que vivemos, sejam eles bons ou ruins.

O drama, adaptado de romance homônimo de autoria e direção de Stephen Chbosky, conta a história de Charlie (Logan Lerman – Percy Jackson), adolescente de 15 anos que acaba de ingressar no ensino médio.

Totalmente deslocado, Charlie tenta sem muito sucesso fazer parte daquele “universo”, no qual sofre rejeição e preconceito generalizado.

Tudo começa mudar quando, involuntariamente, passa a se relacionar com Patrick (Ezra Miller - Precisamos falar sobre Kevin) e Sam (Emma Watson - Harry Potter), dois veteranos que o recebem em seu inusitado circulo de amigos.

Até aqui nada que não seja apto a corresponder qualquer espectativa negativa que se crie sobre o filme, poderia-se estar diante de mais do mesmo, mas então a reviravolta.

Acompanhado aos primeiros atos, surge uma das grandes e corretas apostas do filme: uma trilha sonora impecável, composta de musicas dos anos 80/90, que acompanham as descobertas da própria história, inspiram o visual do filme e creditam veracidade à proposta do diretor, de transmitir a idéia de uma época onde as pessoas paravam para ouvir uns aos outros e sentavam-se em frente a seus gravadores e faziam cópias de fitas para presentearem aos amigos, criando vinculos que hoje podem parecer desimportantes, mas que à época transmitiam sentimentos como carinho e confiança.



O segundo grande ponto positivo do filme é a escolha da narrativa por cartas escritas pelo protagonista à um amigo, qual não é dificil supor tratar-se do próprio público, assim, ao vermos Charlie conversando com este “amigo” já nos damos conta tratar-se de um garoto solitário, introspecto, mas que possui uma ânsia de se relacionar, o que faz com que o personagem atraia, com certa facilidade, um extrema afeiçao do espectador.

Alías, apesar de desconhecer outros trabalhos de Chbosky, ao adaptar sua própria obra, observa-se extrema preocupação com sua criação, qual não exige grandes habilidades, sendo funcionalmente contada em planos básicos, longos e esteticamente bonitos.

Mesmo porque, os diálogos displicentes, pontualmente inseridos, maqueiam a necessidade de uma eventual melhor desenvoltura filmográfica, que aparentemente falta ao diretor, nos fazendo refletir quase que em todos os minutos de projeção, afinal como ficar impassível diante da assertiva dada pelo professor de Charles: “Nós aceitamos o amor que achamos que merecem". 

Sem tirar o foco que o Diretor demonstra certa maturidade ao costurar a história com temas complicados como rejeição, drogas, homossexualidade e depressão, dando certa amplitude ao enredo sem cair em demasiados clichês.

Com o começo da amizade, passamos a descobrir que Charlie não é simplesmente alguém desajustado em seu meio, mas uma pessoa que, apesar de jovem, sofreu e carrega profundos traumas que marcaram sua vida, tais como a perda de seu melhor amigo e a culpa pela morte de sua tia.

Assim, espontaneamente surge uma cumplicidade entre estes três amigos, e nem mesmo um desentendimento ocasionado por Charles, que em uma inocente brincadeira de verdade ou desavio, beija Sam na frente de sua namorada é capaz de abalar o vínculo criado entre eles.

Sam, que é belamente vivida por Emma Watson faz qualquer espectador, por mais apaixonado que fosse, esquecer em um piscar de olhos a bruxa Hermione interpretada por 10 anos consecutivos na série Harry Potter, e não é a toa que quase espontaneamente faz com que Charlie por ela se apaixone.

Mas, de tudo isso, o que importa como dito anteriormente são os pequenos instantes vividos principalmente por estes três personagens, tal qual o momento excessivamente simples em que Charlie, Sam e Patrick estão no carro pela primeira vez e começa tocar a mísica Heroes – David Bowie, situaçoes estas que, indepententemente de qualquer coisa nos fazem valorizar os nossos próprios momentos e nos dão a ideia de que apesar de mortais, somos infinitos!

Enfim, as vantagens de ser invisível é um filme bom que vale a pena ser visto...

Para dar uma de pretenso crítico, coisa que não sou, daria 3,5 estrelas em 5. E antes que me perguntem, não esta não é uma nota baixa, tendo em consideração que para receber um 5 o filme teria de ser irretocável!!!


domingo, 20 de janeiro de 2013

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Para suprir a longa ausência de postagens neste blog, em decorrência da minha dedicaçao à prova da OAB segue um poema que gosto muito, um presente de Manoel de Barros*...


 



  

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão...
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
 

Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.


* Manoel Wenceslau Leite de Barros (Manoel de Barros), natural de Cuiabá, advogado e poeta pertencente ao movimento Modernista, aceitou, desde cedo, que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas tão somente com a verossimilhança.
 


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