segunda-feira, 2 de abril de 2012

Crônicas de Gelo e Fogo - A Tormenta das Espadas


Atenção - Pode conter spoilers para quem não leu os três primeiros livros da Saga.

Infelizmente poucas obras literárias da atualidade possuem materialidade e profundidade suficientes para serem chamadas de “Saga”. Sim, e por tudo o que foi apresentado até agora, em três dos sete livros (o quarto acaba de ser lançado em português), As Crônicas de Gelo e Fogo possuem todos os elementos necessários para se afirmar que esta não é meramente uma SAGA, mas sim e com letras garrafais, que é uma das melhores obras do gênero fantasy book de todos os tempos.

Se você ainda não conhece As Crônicas de Gelo e Fogo, pare tudo o que você está fazendo e vá à livraria ou biblioteca mais próxima e adquira já o primeiro volume A Guerra dos Tronos, que possui uma série televisiva produzida pelo canal HBO.

Enfim, após pouco mais de 800 páginas de A Tormenta das Espadas, goste você ou não do gênero, é inegável a qualidade da escrita de George RR Martin, que leva muitos aficionados a compará-lo a outro grande escritor com RR no nome (J.R.R. Tolkien).

Comparações de lado, uma das coisas que mais me surpreendem neste escritor é a verdade transmitida, pois, se em alguns livros de fantasia tudo acontece e você nem ao menos sabe o porquê, neste RR Martim, prepara toda uma construção antes do BUMMMM final.

Talvez isto se dê, porque no fundo a fantasia do livro tenha ao que me parece uma importância secundária, porque o que realmente importa em todo este enredo são as relações interpessoais e o jogo político que predomina no transcorrer de toda estória.

Não que a fantasia não se faça presente, faz, como no inexplicável eixo de rotação que torna imprevisível quanto tempo uma ou outra estação irá durar, presente no nascimento de lobos gigantes e dragões a muito esquecidos, nas criaturas pra lá da muralha, ou em inexplicáveis ressureições.

Outro ponto fascinante que merece ser dito é a facilidade com que o autor consegue transpor em seus livros, de um modo até displicente, a essência humana. Afinal, tanto na vida real quando em Westeros não existe ninguém exclusivamente “bonzinho” nem unicamente “terrível”.

Se ao iniciar a jornada temos os Starks como grandes heróis e os Lannisters como eternos vilões, no meio do caminho vemos que as coisas não são tão bem assim, vemos que no meio termo tudo é cinza, ainda que os Starks continuem sendo heróis e os Lannisters vilões.

Assim, temos bons exemplos práticos da humanidade imposta por Martim a seus personagens:

Podemos citar a doçura desdenhosa de Jaime Lannister para com Brieene, e esta apresenta a retidão, tal como a dos Starks levada sempre ao extremo, sem meio termo, valendo sempre a última consequência, basta lembrar-se do pobre desertor que teve a cabeça arrancada por Ned no primeiro livro.

Aliás, a honra dos Starks representa, no âmago, todo o desejo de Jaime, algo que o eterno regicida jamais poderá ser, e talvez aqui, as coisas comecem a se encaixar, e possamos entender a frase: “[...] As coisas que faço por amor [...]” pouco antes de arremessar Bran de uma das torres de Winterfell.

Mais aí quando se colocam as coisas na balança o que têm mais peso? O que têm mais valia? São respostas que só o tempo dirá.

Nada na estória é simples, os personagens são complexos e profundos e controlá-los, sem parecer maniqueísta ou contraditório é com certeza uma das maiores habilidade de Martin, que a cada página nos faz por eles apaixonar, para em seguida, sem piedade nos arrancar a fórceps, sem dó ou piedade.

Assim, se lhe interessa um conselho, não se apegue a nenhum dos personagens, isso mesmo a nenhum! Senão a consequência será o sofrimento.

Bem sei que é difícil seguir tal conselho, eu mesmo não o consigo, mesmo porque impossível não se apegar a personagens tão marcantes.

Afinal, como não se apaixonar pela valente Ária, como não se envolver com o surpreendente Tyriom, como não se deixar levar pelo surpreendente Thoros de Myr, ou pela controladora Melisandre, apenas para citar alguns bons exemplos que mesclam a mistura do gênero humanístico com o fantasioso.

Aliais, falando nesta mescla de fantasia e realidade, a Tormenta das Espadas está cheia de epifanias, clímax e anticlímax que tornam a leitura em muitos momentos incessante, para no fim amarrar todo o conjunto sem deixar um gostinho de quero mais pro livro seguinte.

Sobre os pontos altos do livro, posso dizer que nada é mais intenso, e até de certo modo decepcionante que o “casamento vermelho”, que confesso quase me fez parar de lê-lo, e se você acha que estou dramatizando, só tenho a dizer que a sequência que neste momento se passa, faz a morte de Ned parecer previsível e enfadonha.

A Tormenta de Espadas é tão bom e nos contempla com personagens tão impares que é impossível tratar de tudo em um único post, mas sem dúvida cabe menção aos personagens, ao menos por ora, mais importantes da estória, John Snow tornando-se decisivo e buscando sua liderança, Arya, minha favorita indecisa e enérgica, mostrando ser capaz de quase tudo – Valar Morgulis, Bran e sua jornada, Cold Hands que ainda não sabemos muito, mas que sem dúvidas será um presente e Tyrion, o mais enigmático e surpreendente Lannister!!!

De mais a mais, não sei bem o que esperar do que vem por aí, só me resta torcer para que RR Martin conclua esta obra de forma esplendorosa, pois é uma experiência incrível ler as crônicas de gelo e fogo, o mais importante conjunto literário da atualidade.

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