domingo, 20 de janeiro de 2013

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Para suprir a longa ausência de postagens neste blog, em decorrência da minha dedicaçao à prova da OAB segue um poema que gosto muito, um presente de Manoel de Barros*...


 



  

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão...
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
 

Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.


* Manoel Wenceslau Leite de Barros (Manoel de Barros), natural de Cuiabá, advogado e poeta pertencente ao movimento Modernista, aceitou, desde cedo, que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas tão somente com a verossimilhança.

0 comentários:

 


Blá blá Blá © 2008. Design by: Pocket